Edição especial do Prêmio Ethos de Jornalismo reconhece os vencedores

A cerimônia de entrega do 8º Prêmio Ethos de Jornalismo – Edição Especial, realizada em São Paulo, marcou o início de um novo trabalho de capacitação promovido pela Rede Ethos de Jornalistas (REJ). Além de receber o prêmio, todos os vencedores participaram de um seminário que debateu a responsabilidade social na mídia. Foi realizada também uma oficina sobre responsabilidade social para jornalistas.

Segundo Paulo Itacarambi, vice-presidente-executivo do Instituto Ethos, a idéia surgiu a partir dos três debates sobre responsabilidade social na mídia promovidos pela REJ no ano passado. Várias sugestões apresentadas pelos jornalistas naqueles debates foram aproveitadas, como a criação dos indicadores setoriais para jornais, lançados em setembro, e a promoção de cursos sobre responsabilidade social e sustentabilidade para jornalistas. "Este seminário é o início do ciclo de cursos", diz Itacarambi.

Nesta edição especial do Prêmio Ethos de Jornalismo, só puderam concorrer os jornalistas premiados nas edições anteriores, que foram avaliados agora pelo conjunto da obra. "É um importante reconhecimento ao trabalho desses profissionais, mostrando de que maneira eles conseguiram aprofundar a reflexão e contribuir para o debate sobre responsabilidade social", avalia Paulo Itacarambi. O objetivo final do prêmio, de acordo com ele, é que a evolução desse debate mude o comportamento das empresas, sendo os jornalistas vetores importantes dessa mudança.

As discussões levantadas pelo seminário mostraram que os temas responsabilidade social e sustentabilidade estão sendo abordados com mais freqüência pela imprensa. Contudo, há ainda um longo caminho a percorrer. Alguns jornalistas, a exemplo dos finalistas do prêmio, já dominam esses conceitos e os incorporam a seu trabalho, mas a maioria não o faz. "Transversalidade não é um assunto tratado nas faculdades. O jornalista é um analfabeto ambiental, não tem visão sistêmica e não percebe que a questão ambiental não se resume ao bichinho da floresta, mas tem a ver com estilo de vida, com padrão de consumo e com modelo de desenvolvimento", avalia André Trigueiro, apresentador do Jornal das Dez e do programa Cidades e Soluções, ambos no canal Globo News, e criador do curso de jornalismo ambiental na PUC-RJ.

Para Adalberto Wodianer Marcondes, diretor da Revista Digital Envolverde, "o desafio do jornalista hoje é lidar com a informação para a qual ele não está preparado. E ele tem de se capacitar mais rapidamente do que a sociedade". Diante desse diagnóstico, Paulo Itacarambi questionou se a ausência desse novo olhar sobre a realidade, que incorpora os conceitos da sustentabilidade, ocorre dentro das redações ou fora delas, nos economistas que ainda mantêm o discurso da velha economia.

"O problema está tanto dentro quanto fora das redações", afirma Cynthia Rosenburg, editora-executiva da revista Época Negócios. "Mas fora das redações, o nível da discussão sobre responsabilidade social e sustentabilidade é alto. Quando debatemos esses temas nas redações, parece que voltamos dez anos no tempo", conta. Entretanto, como lembrou Andréa Vialli, repórter do caderno "Economia & Negócios" do jornal O Estado de S.Paulo, a maioria dos economistas ainda está no mesmo patamar das redações. "A maioria das fontes a que os jornalistas recorrem ainda têm a visão da velha economia", acredita Andréa. Por outro lado, ela destacou os vários movimentos que apontam novos caminhos na direção da sustentabilidade: "O PIB, por exemplo, é um indicador totalmente ultrapassado, e vários economistas estão trabalhando no desenvolvimento de novos indicadores".

Para Adalberto Marcondes, os jornalistas precisam também começar a olhar para a insustentabilidade. "É preciso mostrar onde deságua o comportamento insustentável, e não só falar do valor de ser sustentável. Mostrar, por exemplo, com a atual crise financeira internacional, que a insustentabilidade custa caro", acredita Marcondes.

Na palestra que encerrou o seminário, Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos, afirmou que o grande desafio hoje é "entender a sustentabilidade como arcabouço referencial dos princípios da nova civilização, que não existe ainda, mas deve ser construída por nós". Por isso, o que a sociedade mais precisa dos jornalistas é que, a partir da visão da sustentabilidade, "façam a interpretação correta da notícia, para que o leitor possa entender sistematicamente o que está acontecendo".

Essa visão sistêmica, que enxerga o todo e as relações entre todas as partes, ainda é rara na imprensa. Young citou um exemplo em relação à atual crise mundial, quando centenas de bilhões de dólares estão sendo desembolsados por governos de vários países para evitar o colapso do sistema financeiro. "Com US$ 1,5 trilhão, todos as metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio seriam alcançados no mundo, mas não vi um artigo sequer correlacionando esses dados", disse. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, propostos pela Organização das Nações Unidas em 2000 e assinados por 191 países, prevêem várias metas até 2015. Entre elas, erradicar a extrema pobreza e a fome, universalizar o ensino básico e reduzir a mortalidade infantil.

Veja a seguir os vencedores do Prêmio Ethos de Jornalismo 2008, nas respectivas categorias.

Fotojornalismo
Dida Sampaio, por fotografias publicadas no jornal O Estado de S.Paulo

Internet
Davi Molinari, por matérias publicadas na revista digital Inovação Unicamp

Jornal
Andréa Vialli, por matérias publicadas no jornal O Estado de S.Paulo

Rádio
Márcio Pessôa, por matérias veiculadas na Rádio Cultura do Rio Grande do Sul

Revista
Cynthia Rosemburg, por matérias publicadas na revista Época Negócios

Televisão
André Trigueiro, por matérias veiculadas no canal Globo News

Destaque Rede Ethos de Jornalistas
Adalberto Wodianer Marcondes, por matérias publicadas na Revista Digital Envolverde